“A Igreja
nada considera mais venerável, após a celebração anual do Mistério da Páscoa,
do que comemorar o Natal do Senhor e suas primeiras manifestações” (NUALC 32).
A solenidade do dia 25 de dezembro ocupa o centro de todo o ciclo e, ao mesmo
tempo, conserva uma relação especial com a Páscoa. A celebração natalina do
Senhor se inicia com as primeiras vésperas do Natal e termina no domingo depois
da Epifania.
A
característica mais visível deste período é o acúmulo de festas. As principais
são o dia 25 de dezembro e a Epifania, no dia de janeiro; no domingo seguinte
ao Natal, celebra-se a festa da Sagrada Família; no dia 1º de janeiro, oitava
de Natal, a solenidade de Santa Maria Mãe de Deus; e no domingo depois da
Epifania, a festa do Batismo do Senhor. Naqueles lugares onde o dia 6 de
janeiro não é dia de preceito, a Epifania é transferida para o domingo que cair
entre o dia 2 e o dia 8 de janeiro. Por outro lado, conserva-se a oitava de
Natal, que inclui, nos dias 26,27 e 28 de dezembro, as festas de santo Estêvão,
de são João Evangelista e os santos Inocentes. Depois do dia 1º de janeiro, os
dias de semana do Natal têm categoria menor.
A liturgia
romana dedica à preparação do Natal quatro semanas com seus respectivos
domingos. O Advento começa nas primeiras vésperas do domingo e cai no dia 30 de
novembro ou no dia mais próximo desta festa, e termina antes das primeiras
vésperas do Natal. A partir do dia 17 de dezembro, intensifica-se a preparação
para o Natal. As férias são independentes dos domingos.
A história
de todo esse ciclo não é uniforme. Com efeito, enquanto os livros litúrgicos
atuais começam no primeiro domingo do Advento, os antigos sacramentários
começavam no dia 25 de dezembro.
A primeira
notícia histórica do Natal vem do
cronógrafo copiado por Fúrio Dionísio Filócalo, em 354, embora remonte ao ano
336, que contém a depositio martyrum
e a depositio episcoporum da Igreja
de Roma. Encabeçando a primeira lista, no dia 25 de dezembro, se lê: VIII kal. Ian. natus est Christus in
Betlehem Iudeae.
No entanto,
apesar das pesquisas, não se sabe com certeza qual teria sido o motivo da
escolha do dia 25 de dezembro como data da festa do Nascimento do Senhor. A
coincidência do dia 25 de dezembro com a festa pagã do Natalis (soli) invicti, estabelecida no ano 275 pelo imperador
Aureliano no solstício de inverno, fez pensar que o cristianismo teria querido
resistir à festa pagã propondo a celebração do nascimento de Cristo, o
verdadeiro sol de justiça (cf. Ml
4,2; Lc 1,78).
Na Roma antiga
celebrava-se nesse dia a festa do Sol Invencível. De acordo com os cálculos
daquele tempo, o dia 25 de dezembro marcava o solstício de inverno. Ou seja, no
Hemisfério Norte, é o dia em que o sol parece mais fraco (isso não acontece no
Hemisfério Sul). O sol é fonte de calor. Nessa época, essa força parecia estar
vencida e a ponto de morrer. Mas, nos dias seguintes, pouco a pouco ia se
tornando mais forte e brilhante. Isso demonstrava para o povo daquele tempo que
o sol era forte e invencível. Por volta do ano 275 da nossa era, o imperador
romano Aureliano criou a festa do Sol Invencível.
Supostamente,
os cristãos daquele tempo teriam aproveitado essa idéia e a transformado
completamente. O Natal do Sol Invencível passava a ser o Natal de Cristo. Isso
porque o simbolismo da luz é muito importante na Bíblia. De fato, os primeiros
cristãos gostavam de chamar Jesus de “Sol de Justiça”, “Esplendor do Pai”, “Luz
do Mundo” e outros títulos ligados à luz.
Uma segunda
hipótese se baseia no cálculo da data da Morte de Cristo, segundo a crença
antiga de que esta teria acontecido no mesmo dia em que aconteceu a encarnação.
A data de 25 de dezembro teria sido fixada, portanto, com base no dia 25 de
março, data estimada da morte.
Uma terceira
hipótese se apóia no objeto da festa segundo as homilias patrísticas,
especialmente as de são Leão Magno (440-461), a testemunha mais qualificada
sobre o sentido original do Natal na liturgia romana, autor, por outro lado, do
famoso tomus ad Flavianum enviado ao
Concílio de Calcedônia. A rápida difusão da festa se explica mais facilmente
pela necessidade de afirmar e difundir a fé autêntica no mistério da encarnação
do que pelo afã de resistir a uma festa pagã. O Concílio de Nicéia foi
celebrado no ano 325 e os concílios seguintes tiveram que fazer frente a
diversos erros cristológicos. De fato, em fins do século IV o Natal já era
celebrado no norte da África (360), na Espanha (384), em Constantinopla (380),
em Antioquia (386), na Capadócia etc.
A liturgia
papal de Roma, a partir do século V, compreendia três estações no dia 25 de
dezembro: Santa Maria Maior – junto ao presépio – à meia-noite; Santa Atanásia,
ao amanhecer, e São Pedro, ao clarear o dia. Com origem diferente quanto à
época, as três celebrações se difundiram com os livros litúrgicos romanos. No
século VI, introduziu-se a vigília do Natal com jejum e uma missa vespertina, e
provavelmente também a oitava no dia 1º de janeiro. A festa de santo Estêvão, a
de são João Evangelista e a dos Inocentes remontam pelo menos ao século VI na
liturgia romana, embora já fossem celebradas desde o século IV na liturgia
síria, com a particularidade de incluir também a festa de são Pedro e são
Paulo, a de são João e são Tiago no dia 27, não havendo a festa dos santos
Inocentes. As demais liturgias ocidentais seguem a liturgia romana, mas
comemorando também, no dia 27, o apóstolo são Tiago.
Mais
recentemente, outra teoria propõe que Jesus teria nascido sim no dia 25 de
Dezembro. Seis meses antes da Anunciação do anjo à Maria, já Isabel havia
concebido João Batista. O Evangelho de Lucas nos diz que Zacarias, esposo de
Isabel, pertencia à classe sacerdotal de Abias e estava desempenhando sua
função sacerdotal na ordem de sua classe.
“5...houve
um sacerdote por nome Zacarias, da classe de Abias; sua mulher, descendente de
Aarão, chamava-se Isabel.
8. Ora, exercendo Zacarias diante de Deus as funções de sacerdote, na
ordem da sua classe...” (Lc 1)
No antigo
Israel a casta sacerdotal estava dividida em 24 classes, que se alternavam
seguindo uma ordem fixa e imutável, para prestar serviço no templo, por uma
semana, duas vezes por ano. A classe a que pertencia Zacarias – a classe de
Abias – era a oitava da ordem. Mas quando ocorriam seus turnos de serviço? Isso ninguém sabia. Mas, recentemente, o
professor Shemarjahu Talmon, docente da Universidade Hebraica de Jerusalém,
trabalhando em conjunto com outros especialistas e usando, sobretudo, textos da
biblioteca de Qumran, conseguiu desvendar o enigma.
Ele
conseguiu determinar a ordem em que trabalhavam as classes sacerdotais. A
classe de Abias prestava serviço no templo duas vezes por ano, uma delas na
última semana de setembro. Isso confirma a tradição oriental de que Isabel
teria recebido o anúncio de sua gravidez em Setembro e é exatamente 6 meses
antes do anúncio do anjo à Maria, como indicam os textos bíblicos.
Portanto,
segundo essa teoria recente, é possível que realmente os fatos tenham
acontecido na ordem em que são celebrados hoje em dia. Entre os dias 23 e 25 de
Setembro, a concepção de João Batista (celebrada pela igreja do oriente); 6
meses depois, em 25 de Março, a anunciação do anjo à Maria; mais 3 meses e
temos a natividade de São João Batista em 24 de Junho; e mais 6 meses temos o
Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo em 25 de Dezembro.
Não sabemos
se os cristãos dos primeiros séculos conheciam essa informação do nascimento de
Jesus, mas podemos ter a certeza de que a definição da data não foi dada ao
acaso, nem determinada por uma ameaça pagã, mas sim iluminada pelo Espírito
Santo.
De tudo isso
o mais importante não é saber a data exata do nascimento, mas conhecer Aquele
que é celebrado e Sua importância para a salvação humana. Conhecer Jesus, Seu
exemplo, Seus ensinamentos é verdadeiramente celebrar o Natal. Celebrar
diariamente o nascimento do Cristo em nossos corações. Celebrar a vitória da
Luz sobre as trevas, da vida sobre a morte, do Amor
sobre o pecado.
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Os profetas, com voz
poderosa,
anunciam a vinda de Cristo,
proclamando a feliz salvação,
que liberta no tempo previsto.
Ao fulgor da manhã radiosa,
arde em fogo o fiel coração,
quando a voz, portadora de glória,
faz no mundo soar seu pregão.
Não foi para punir este mundo
que ele veio na vinda primeira.
Ele veio sarar toda chaga
e salvar quem no mal perecera.
Mas a vinda segunda anuncia
que o Cristo Senhor vai chegar,
para abrir-nos as portas do reino
e os eleitos no céu coroar.
Luz eterna nos é prometida
e se eleva o astro-rei salvador,
que nos chama à grandeza celeste
com a luz do divino esplendor.
Ó Jesus, só a vós desejamos
para sempre no céu contemplar,
e por vossa visão saciados,
glória eterna sem fim vos cantar.
(Laudes do dia 24/12)
Fonte: http://mixcristao.blogspot.com